15 dezembro 2011

Art Nouveau, o estilo que nasceu na Bélgica

Art nouveau ou Arte nova, foi um estilo estético essencialmente de design e arquitetura que também influenciou o mundo das artes plásticas.
 
Até fins do século XIX, a arquitetura baseou-se no historicismo, fortemente influenciada pelas antigas tradições clássicas. Insistindo em remodelar as velhas fórmulas, arquitetos produziam uma arquitetura desprovida de qualquer originalidade, repetindo formas e conceitos extremamente presos à cultura artística tradicional que vigorava até então.

Por volta de 1890, com o grande avanço da industrialização e consequente descoberta de novos materiais  (como o ferro e o vidro, principais elementos dos edifícios que passaram a ser construídos segundo a nova estética) e métodos de construção, além dos avanços tecnológicos na área gráfica, como a técnica da litografia colorida que teve grande influência nos cartazes, tem início uma insatisfação com essa atmosfera eclética que tornava a arquitetura sujeita aos estilos históricos e aos preconceitos do passado.
Artistas de todo o mundo ansiavam por uma arquitetura renovada, que acompanhasse os progressos da ciência de seu tempo.

Dentro deste contexto, não somente a arquitetura,  mas a cultura artística em geral é reavaliada no sentido de ampliar o campo tradicional das artes, baseando-se na moderna concepção do mundo que estava cada vez mais evidente. Mesmo os pintores mais estreitamente relacionados com o estilo, Toulouse-Lautrec, Pierre Bonnard, Gustav Klimt, criaram cartazes e objetos de decoração memoráveis. Art Nouveau modernizou o design editorial, a tipografia e o design de marcas comerciais, além de se destacar pelo desenvolvimento dos cartazes modernos. O estilo também revolucionou o design de moda, o uso dos tecidos e o mobiliário, assim como o design de vasos e lamparinas Tiffany, artigos de vidro Lalique e estampas Liberty City.






Art Nouveau, Bélgica
Luminária Louis Comfort Tiffany

Luminária Louis Comfort Tiffany


Nasce então, como consequência dessa crise, uma nova forma de criar, descendente de jovens artistas que colocam em prática um novo estilo original com idéias, formas e experiências audaciosas e cada vez mais distantes do velho repertório das escolas.








A Art Nouveau, como foi chamado esse novo estilo, nasce então como o conjunto de vanguardas descendentes desse anseio pela novidade artística e conceitual, alcançada nas mais diversas áreas da arte e em diferentes lugares do mundo. Tanto na pintura, na arquitetura, no design ou em qualquer outra forma de produção da arte, o novo estilo é caracterizado por esse espírito de inovação, encarando a cultura artística em seu conjunto, e não mais em partes separadas.

Com certa ausência de excessos e maior exposição da razão dos materiais utilizados, o Art Nouveau foi inspirado no movimento inglês Arts and Crafts (artes e ofícios) – que já havia então restabelecido o valor do artesanato e do trabalho artístico – mas dispunha de novas formas e desenhos diferenciados que se inseriam dentro de uma produção industrial.

Na tentativa de transformar as artes industriais decorativas, o Art Nouveau traz também o ornamento sob uma visão diferente da que existia até então, de forma que o ornamento não só completa a estrutura, mas faz parte do objeto ao invés de estar somado a ele. Além do abandono dos estilos históricos, a tentativa de inserção da arte na vida cotidiana e a organização estrutural de acordo com a função são outras características comuns do movimento, que alguns autores chegam a considerar um dos primeiros passos rumo à arte moderna.






Em contraponto à duração relativamente curta dessa nova arte – apenas 15 anos – muitos de seus preceitos se incorporaram aos movimentos de vanguarda seguintes. Em meio a essa renovação das artes disseminada por todo o mundo, se destacaram artistas como Victor Horta, Henry van de Velde, Viollet le Duc, Otto Wagner, Adolf Loos – muitas vezes dando continuidade à linha de pensamento do inglês Morris (arts and crafts) ou às experiências francesas de Perret e Garnier.

Todos os historiadores estão de acordo em constatar que o movimento europeu para a renovação das artes aplicadas nasce na Bélgica antes do que em qualquer outra parte, entre 1892 e 1894, e nasce ex abrupto, com a Casa Tassel de Horta em Bruxelas e a decoração de Van de Velde para sua casa em Uccle... Essas obras parecem não ter nenhum precedente, e os elementos do novo estilo, que será chamado de art nouveau, já surgem perfeita e coerentemente elaborados” (Historia da Arquitetura Moderna, LEONARDO BENEVOLO, pg 273)

Precursores do art nouveau na Bélgica, os jovens artistas Victor Horta e Henry van de Velde e suas experimentações são de suma importância para a compreensão do movimento e suas principais características. Suas contribuições, deram início a uma nova linguagem que fora disseminada mundo afora. 







Como já foi ressaltado, o Art Nouveau possui o caráter de cultura de vanguarda e, portanto, muitas vezes não segue uma linha única de pensamento e/ou produção, podendo ser avaliado de forma distinta em cada local que se desenvolve. Além disso, o movimento atrai a personalidade do artista para as questões artísticas de modo muito mais sério do que no passado, o que contribui para as diferenças teóricas e práticas entre eles. Por fim, a confusão de tendências e fontes indiretas que podem ter influenciado o Art Nouveau completa a lista de fatores que justificam esse relativo distanciamento entre o estilo de um artista e outro, embora muitas características se enquadrem na descrição do estilo como um todo.

Nessas condições, até mesmo experiências realizadas na mesma região – como é o caso dos artistas belgas Horta e Van de Velde – podem possuir características distintas, o que muitas vezes impede que suas obras sejam analisadas de forma conjunta. 

Victor Horta (1861-1947) nasceu em Gand, Bélgica, onde iniciou seus estudos na Academia de Gand, terminando-os na Academia de Bruxelas em 1881. Logo depois, trabalhou no estúdio de Alphonse Balat, quando construiu suas primeiras obras.
Após passar um período (de 1885 a 1892) apenas escrevendo, o artista construiu, em 1892, uma das obras mais importantes para a difusão do Art Nouveau: a casa Tassel na Rua Turin, em Bruxelas.


Casa Tassel, Art Nouveau
Casa Tassel

Interior da casa Tassel

Casa Tassel

Casa Tassel

Casa Tassel

A casa marca o surgimento do estilo no campo da arquitetura, realizando plenamente os ideais do movimento pela primeira vez em termos arquitetônicos. Em 2000, a casa Tassel foi proclamada Patrimônio Mundial da UNESCO, em conjunto com outras três construções de Horta, Solvay Hôtel (Avenida Louise, 224) o Hôtel van Eetvelde (projetado em 1895 e fica na Avenida Palmerston, 4), e  a Maison Horta, (de 1898, rua Américaine, 25), que tornou-se o Museu da Horta.



Solvay Hôtel, Art Nouveau, Bélgica
Solvay Hôtel

Solvay Hôtel

Solvay Hôtel

Solvay Hôtel


Hôtel van Eetvelde


Hôtel van Eetvelde

Hôtel van Eetvelde

Hôtel van Eetvelde


Hôtel van Eetvelde

Hôtel van Eetvelde

Hôtel van Eetvelde

Maison Horta

Maison Horta

Maison Horta

Maison Horta

Maison Horta

Maison Horta


Maison Horta

Maison Horta

Quebrando o esquema dos três cômodos interligados, característica comum das casas de Bruxelas, Horta introduz luz e fluidez por toda parte assim como uma decoração onipresente dominada até nos mais ínfimos detalhes. Durante dez anos, graças à ajuda de um pequeno grupo de amigos, entre os quais o industrial Ernest Solvay, ele construiu uma série de residencias particulares, escritórios e lojas, entre elas a Maison du Peuple (1897), que ilustra a ousadia e originalidade do artista para a época em sua fachada curva de ferro e vidro. Infelizmente, a construção já não existe.


Maison du Peuple 

Em 1913, foi nomeado presidente da Academia de Bruxelas, tornando-se mais tarde barão Horta.

Henry Clemens van de Velde nasceu em Antuérpia, Bélgica, em 1863. Iniciou sua atividade criadora como pintor, sob a influência das tendências neo-impressionistas. Por volta de 1890, em sintonia com as idéias do inglês William Morris, passou a dedicar-se ao desenho industrial, com a intenção de aplicar ao dia-a-dia suas concepções estéticas.

Preconizou suas artes aplicadas primeiro em sua terra natal, a Bélgica. Em 1896, realizou em Paris uma exposição de móveis que, com suas linhas onduladas e seus motivos orgânicos, foram fundamentais para difundir o Art Nouveau na França. No ano seguinte, com uma exposição em Dresden, chegou à Alemanha.

Cadeira projetada para casa Bloemenwerf em 1895

Serviço de jantar, em porcelana e prata, desenhado por Van de Velde

Escadaria do Sanatório de Trzebiechów

No arranjo que propõe para a casa Bloemenwert, sua casa em Uccle, em 1897, Van de Velde firma-se pela primeira vez na decoração, ao mesmo tempo que começa sua atividade como teórico e propagandista.


Casa Bloemenwert

A partir de 1902, torna-se conselheiro do Duque de Weimar – fundando a Escola de Artes e Ofícios de Weimar 4 anos depois – e é chamado para dirigir o Weimar Kunstgewerblicher Institut, que tornaria-se a Bauhaus de Gropius no pós-guerra.
Foi também um dos fundadores do Deutsche Werkbund (Associação Alemã de Ofícios), além de ter fundado também em Bruxelas, em 1927, o Institut Supérieur des Arts Décoratifs de la Cambre (no qual se formaram os mais importantes arquitetos belgas), antes de mudar-se para a Suíça, em 1947.

Entre as obras de Van de Velde, contam-se a decoração interior do Museu Folkwang em Hagen (Alemanha, 1900-1902), a casa Hohenhof na mesma cidade (1909), o teatro para a Exposição da Werkbund de Colônia (1914) e o Museu Kröller-Müller em Otterloo, Holanda (1921). Desenhou igualmente ilustrações para livros e encadernações, assim como móveis, candeeiros, objetos de prata, estampados e cartazes, redigindo diversos ensaios sobre teoria da arte, entre eles "Do Novo Estilo" (1907).


Mobiliário

Porta Rosa

Cartaz da sopa Tropon

Ainda hoje, Bruxelas se orgulha de contar um grande número de construções Art Nouveau, apesar de inúmeras demolições que ocorreram desde o fim da Segunda Guerra Mundial até o final dos anos sessenta.


No Brasil 

Foi no início do século XX que o art nouveau chegou ao Brasil, importado da França, principalmente na decoração de interiores ou em grades e elementos arquitetônicos de ferro forjado. São testemunhos disso, no Rio de Janeiro, a decoração da Confeitaria Colombo, na rua Gonçalves Dias nº 32, e as grades dos salões do Teatro Municipal.

Confeitaria Colombo, Rio de Janeiro
Confeitaria Colombo

Confeitaria Colombo

As grades dos salões do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, em Art Nouveau


Teve fundamental participação na divulgação e realização da art nouveau o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo. Um dos maiores nomes desse estilo, no Brasil, é o artista Eliseu Visconti, pioneiro do design no País.

Na década de 1910, chegou ao Rio o arquiteto italiano Virgilio Virzi, que projetou em neogótico com ornamentos art nouveau o prédio do Elixir de Nogueira, na rua da Glória (demolido), a residência Martinelli, na avenida Oswaldo Cruz nº 149 (demolida), e uma casa na rua do Russel nº 734. Em São Paulo, a Vila Penteado (1902) foi projetada por Carlos Eckman em típico estilo art nouveau francês.

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Nota: Todas as imagens desse post foram buscadas na internet. Serão imediatamente retiradas do blog, caso algum autor assim deseje.

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