As maiores árvores do
mundo, conhecidas pelos ecologistas como “rainhas da floresta”, estão morrendo
em grande número por causa do desflorestamento, da abertura de estradas, da
criação de novas fazendas e aglomerados urbanos. A tais fatores juntam-se
períodos prolongados de secas e novas pragas e doenças, constituindo um
conjunto de causas que está levando ao fim de exemplares de diferentes espécies,
alguns com centenas e até milhares de anos de idade.
Extensos estudos
realizados na Amazônia, África e América Central mostram que esses gigantes
botânicos, embora tenham conseguido se adaptar com sucesso a séculos de
tempestades, pragas e períodos climáticos críticos, mostram-se agora muito mais
vulneráveis que outras árvores às novas ameaças surgidas no mundo
contemporâneo.
As Redwood (madeira vermelha ou sequoia canadense) são as árvores mais altas do mundo. O maior espécime já encontrado tem 115,56 metros de altura e vive na Califórnia |
“A fragmentação das
florestas ameaça de modo desproporcional as grandes árvores”, diz William
Laurance, pesquisador da James Cook University, em Cairns, Austrália. “Não
apenas há um aumento geral de mortes de árvores nos limites das florestas,
como um aumento proporcionalmente ainda maior de morte de grandes árvores”.
As Redwood gigantes são árvores perenes, de vida muito longa, muitas chegando aos 2 mil anos de existência |
“Sua elevada estatura e
seus troncos relativamente duros, espessos e inflexíveis as tornam
particularmente vulneráveis ao desraizamento e às fraturas, sobretudo nas
bordas das florestas, onde a turbulência dos ventos tem aumentado”, declarou
Laurance em entrevista no último número da revista New Scientist.
No Yosemite National Park, Califórnia, vive um outro tipo de sequoia gigante, a sequoiadendron giganteum |
Grandes árvores
constituem menos de 2% da população de qualquer floresta, mas elas podem conter
25% da biomassa total, e são vitais para a saúde da floresta como um todo pela
sua capacidade de semear áreas muito maiores. “Com toda a sua enorme copa
exposta ao Sol, as grandes árvores podem capturar uma quantidade muito maior de
energia. Isso lhes possibilita produzir maiores quantidades de frutas, flores e
folhagem, o que é muito importante para a sustentação de boa parte dos animais
que vivem na floresta. Suas copas ajudam a equilibrar todo o resto da floresta
onde vivem, ao mesmo tempo em que a camada de vegetação rasteira que existe sob
a sua sombra cria um habitat especial para outras plantas e animais”, prossegue
Laurance.
Apenas um pequeno
número de espécies de árvores possui capacidade genética para gerar indivíduos
realmente grandes. A criação de uma árvore gigante exige boas condições de
crescimento, muito tempo e lugar certo para a germinação da semente. Perturbar
qualquer uma dessas exigências significa perder a chance de se ter mais uma
árvore de grande porte.
Sequoia gigante no Sequoia National Park, Califórnia |
Em algumas partes de
mundo, as populações de grandes árvores estão diminuindo porque suas sementes
não têm mais condições de germinar ou de sobreviver depois de germinadas. No
sul da Índia, por exemplo, arbustos agressivos estão invadindo as áreas
rasteiras de muitas florestas, impedindo as sementes das árvores de atingir o
solo ao cair. Sem árvores jovens para substituí-las, o desaparecimento da maior
parte dos exemplares mais velhos e mais altos é só uma questão de tempo.
O noveiro se instala no Olimpic National Park, no Noroeste da Costa do Pacífico. No parque vivem muitos velhos Pseudotsuga Menziesii, conhecidos como Pinho do Oregon ou Abeto Douglas |
Segundo Laurance, o
fenômeno é generalizado, e não se limita a este ou aquele país. Na Inglaterra,
por exemplo, uma nova doença destruiu a maior parte dos gigantescos olmos,
enquanto novos organismos exóticos e infecções bacteriológicas, frequentemente
trazidas de outros continentes através da importação de vegetais, estão
ameaçando velhos carvalhos, freixos e outras espécies de grandes árvores.
Secas mais intensas e
mais prolongadas cada vez mais frequentem em áreas tropicais devido às mudanças
climáticas, também fazem muitas vítimas. Estudos feitos em Porto Rico e na
Costa Rica também indicam que as grandes árvores sofrem mais durante os
períodos de seca do que a maioria dos demais organismos.
Eucalyptus Regnans, no Parque Nacional Yarra, em Victoria, Austrália |
Durante a seca,
incêndios devastam grandes áreas das florestas tropicais. Supunha-se antes que
as grandes árvores conseguiam sobreviver a esses incêndios, mas a pesquisa
mostrou que na verdade boa parte delas morre entre dois e três anos depois. Nas
florestas nevoentas, as grandes árvores usam seus galhos e copas para absorver
as gotículas contidas na névoa bem como as gotas que se condensam nos galhos e
na superfície das folhas. O aquecimento global começa a fazer com que as nuvens
subam para altitudes ainda maiores, impedindo que as árvores possam se
aproveitar dessas fontes de umidade.
Estrada que corta o Parque Nacional Yarra |
“O perigo é que as
árvores maiores e mais velhas progressivamente irão morrer e não serão
substituídas. Isso pode contribuir para desestabilizar ainda mais o clima: à
medida que as grandes árvores morrem, as florestas irão liberar o carbono
armazenado nelas, desencadeando um círculo vicioso de mais aquecimento e mais
redução do tamanho das florestas”, alerta Laurance.
Tasmanian Blue Gum com 90,7 metros de altura. Ele é o sexto eucalipto mais alto do mundo |
Muitas dentre as
grandes árvores constituem os mais velhos e ecologicamente mais importantes
habitantes da floresta. Na Amazônia, esses exemplares têm com frequência entre
400 e 1400 anos de idade; na América do Norte, redwoods gigantes podem superar
2 mil anos, e há sequoias gigantes com mais de 3 mil anos de idade.
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